PALAVRA DO DIRETOR-GERAL
A Amazônia possui muitas espécies de madeira com grande potencial para as mais diversas aplicações. O estudo de suas propriedades tecnológicas é o primeiro passo para a correta utilização desse recurso, tarefa que o Laboratório de Produtos Florestais (LPF) vem desempenhando com maestria desde 1973.
Dentre as diversas características que podemos estudar, a durabilidade natural talvez seja a mais demorada, pois demanda estudos de campo, notadamente longos. Essa é uma informação preciosa para o mercado, que almeja madeiras naturalmente resistentes, o que diminui a utilização de produtos químicos, geralmente danosos à saúde humana, e consequentemente os custos de produção.
Assim, a divulgação de informação sobre espécies de madeiras com alta durabilidade natural representa a oportunidade de ampliar a oferta no mercado, reduzindo a pressão sobre as espécies mais comercializadas, além de evitar o uso de fungicidas e inseticidas que normalmente trazem risco à saúde e ao meio ambiente.
As informações apresentadas nessa publicação são fruto de um trabalho iniciado pelo LPF na década de 1980, quando o Laboratório iniciou um amplo trabalho de campo para avaliar a durabilidade natural de espécies de madeiras amazônicas com grande potencial de utilização. Os biomas escolhidos para os testes foram a Amazônia e o Cerrado. Aqui, você encontrará informações sobre as 12 espécies de madeiras mais resistentes testadas nos campos de apodrecimento de madeiras monitorados pelos pesquisadores do LPF.
Informações como essas contribuem para a ampliação do uso e comercialização de novas espécies florestais, bem como para a melhoria da atividade de manejo florestal, que se torna mais eficiente e diversificado.
Valdir Colatto
Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro
PALAVRA DA MINISTRA DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
O trabalho ora apresentado foi construído através de um amplo projeto de pesquisa ao longo de mais de 40 anos conduzido por pesquisadores do Laboratório de Produtos Florestais, trabalho que é realizado de forma contínua nos biomas da Amazônia e Cerrado com dezenas de espécies nativas.
As informações geradas neste trabalho são essenciais para conhecer o potencial de utilização destas espécies florestais nativas da região Amazônica, pois nos informam sobre sua durabilidade, sem necessidade de uso de substâncias químicas para a proteção da madeira, o que contribui para a difusão de informações florestais aos diversos atores da cadeia.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio do Serviço Florestal Brasileiro procura promover o uso sustentável de espécies nativas, e através de suas pesquisas, ampliar a perspectiva de êxito do Manejo Florestal Sustentado promovido pela política de concessão de Florestas Públicas, gerando, desta forma, emprego e renda nessas regiões.
Tereza Cristina Correa da Costa Dias
Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
DURABILIDADE NATURAL DE MADEIRAS AMAZÔNICAS
A durabilidade natural de uma madeira é definida como a vida média útil em serviço quando exposta a fatores abióticos (temperatura, umidade, luminosidade, acidez, etc.) e a organismos xilófagos, principalmente fungos e insetos (LEPAGE et al., 1986; SANTINI, 1988; JANKOWSKY, 1990; JESUS et al., 1998). A madeira é degradada biologicamente por organismos xilófagos que utilizam os polímeros naturais da parede celular como fonte de nutrição, e alguns deles possuem sistemas enzimáticos capazes de metabolizá-los (LEPAGE et al., 1986).
Dessa forma, a durabilidade natural da madeira é interpretada pela capacidade que a mesma possui de resistir à ação dos agentes deterioradores, tanto os biológicos como os físico-químicos, sendo assim, a madeira pode apresentar alta, média ou baixa resistência à ação desses agentes (GOMES; FERREIRA, 2002).
METODOLOGIA
Para cada espécie, 20 estacas de cerne de 50 x 50 x 500 mm3 (R x T x L) foram obtidas após condicionadas ao ar. As estacas foram semienterradas aleatoriamente no campo, verticalmente, em fileiras com distância de 50 cm entre si e 100 cm entre elas.
Em seguida, retiramos o solo para sondar as estacas a fim de verificar qualquer alteração em sua integridade como a ocorrência de fungos ou cupins. Após a inspeção, colocamos as estacas em seu orifício original, preenchido com terra retirada e pressionamos contra as estacas. Os espécimes foram classificados de acordo com a Tabela 1 com base em Becker (1972), que foi o precursor do EN-252 (CEN 1989).
MUIRAPIXUNA
Nome científico: Chamaecrista scleroxylon
(Ducke) H.S.Irwin & Barneby
É uma árvore nativa e endêmica do Brasil, possuindo distribuição geográfica na região norte do país, mais especificamente nos estados do Amazônas, Pará e Rondônia . A Muirapixuna possui altura que pode variar entre 20 a 30 metros.
A C. scleroxylon possui alta durabilidade natural em ensaios de campo com vida útil superior a 36 anos no bioma amazônico.
PRACUÚBA DA TERRA FIRME
Nome científico: Trichilia lecointei (Ducke)
Árvore nativa e endêmica no país, possui distribuição geográfica limitada à região norte do Brasil. Pode ser encontrada nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Rondônia.
A espécie possui em ensaios de campo uma durabilidade natural superior a 31 anos no bioma amazônico
PAU-SANTO
Nome científico: Zollernia paraensis Huber
O Pau-santo é uma árvore nativa e endêmica do Brasil com distribuição geográfica nas regiões Norte (Amapá e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco). A espécie possui uma madeira escura, densa e pesada, de fácil trabalhabilidade, sendo muito utilizada na construção civil em dormentes e cruzetas, marcenaria de luxo e instrumentos musicais
Possui uma durabilidade natural de 30 anos no bioma amazônico em ensaios de campo. Em ensaios laboratoriais é considerada altamente resistente aos fungos Bjerkandera fumosa Pycnoporus sanguineus Gloeophyllum trabeum Gloeophyllum striatum
CACHACEIRO
Nome científico: Myrocarpus frondosus Allemão
A espécie Myrocarpus frondosus é nativa e não endêmica do Brasil. O Cachaceiro possui distribuição fitogeográfica pela Mata Atlântica nas regiões Nordeste (Bahia), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina).
A árvore possui altura entre 20 a 30 metros, com diâmetro entre 60 a 90 cm. A madeira considerada de alta qualidade e muito valorizada, sendo dura ao corte devido a alta densidade básica (0,91 cm2). O Cachaceiro é muito empregado na construção civil, como caibros, vigas e ripas, móveis e assoalhos.
A espécie Myrocarpus frondosus é considerada altamente resistente aos ensaios de campo, com vida útil de 29 anos tanto no bioma Cerrado quanto na Amazônia. Em ensaios de laboratório a espécie foi considerada altamente resistente aos fungos Bjerkandera fumosa Pycnoporus sanguineus Gloeophyllum trabeum Gloeophyllum striatum
MATA-MATÁ
Nome científico: Eschweilera coriacea (DC.) S.A. Mor
É uma espécie nativa e não endêmica do país, sendo amplamente encontrada em toda a extensão territorial do Brasil
A arvore de Mata-Matá alcança altura entre 15 a 35 metros, possuindo tronco ereto e cilíndrico. É uma espécie considerada muito pesada (densidade básica de 1,13 g/cm3) de textura média, indicada na construção civil para caibros, vigas e ripas, também podendo ser utilizada em dormentes, cabos para ferramentas, bem como em tacos para assoalhos.
A madeira da E. coriacea é considerada altamente resistente em ensaios de campos no bioma Cerrado, tendo vida útil de 29 anos
ROXINHO
Nome científico: Peltogyne paniculata Benth
O Roxinho é uma espécie nativa e não endêmica no Brasil. Possui distribuição geográfica limitada à região norte nos estados Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima
A madeira é considerada moderadamente difícil de ser trabalhada, tanto manualmente como em máquinas, uma vez que é dura (densidade básica de 0,74 g/cm3) e possui uma resina que exsuda da madeira quando aquecida, durante o corte, porém apresenta bom acabamento.
A espécie apresenta durabilidade natural em ensaios de campo de 29 anos no bioma Cerrado, sendo considerada dessa forma altamente resistente. Em ensaios laboratoriais, a P. paniculata apresentou-se altamente resistente aos fungos Pycnoporus sanguineus e Gloeophyllum trabeum
MUIRACATIARA RAJADA
A espécie é nativa e não endêmica no Brasil, possuindo distribuição geográfica na região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia), Nordeste (Maranhão) e Centro-Oeste (Mato- Grosso).
A Muiracatiara rajada atinge altura média de 25 metros e pode apresentar diâmetros de até 60 centímetros. A Madeira apesar de dura (densidade básica de 0,94 g/cm3) é de fácil trabalhabilidade, permitindo excelente acabamento em pintura e verniz.A A. lecointei é considerada uma espécie altamente resistente aos ensaios de campo realizados no bioma Amazônia
PEROBA MICA
Nome científico: Aspidosperma macrocarpon Mart. & Zucc
Espécie nativa e não endêmica, possui distribuição em todas regiões do Brasil.
Possui altura entre 8 e 18 metros com tronco entre 25 a 35 cm de diâmetro. É uma madeira moderadamente pesada (densidade básica de 0,79 g/cm3). A madeira é muito utilizada na construção civil e naval, bem como para a fabricação de cabos de ferramentas, dormentes, marcenaria e capintaria.
A espécie é considerada altamente durável no bioma Cerrado em ensaios de campo, possuindo vida útil de 27 anos
PEQUIARANA
Nome científico: Caryocar glabrum (Aubl.) Pers.
Espécie nativa e não endêmica no Brasil, sendo encontrada nas regiões Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima), Nordeste (Maranhão) e Centro-Oeste (Mato-Grosso).
A madeira de Pequiarana é difícil de ser trabalhada, uma vez que possui alta densidade (0,85 g/cm3). Apresenta uma superfície áspera, após ser aplainada, devido à grã revessa, entretanto, possui bom acabamento em pintura, verniz e polimento.
A espécie é considerada altamente resistente em ensaios de campo no bioma do Cerrado, com vida útil de 27 anos
CUMARU
Nome científico: Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
É uma espécie nativa e não endêmica no Brasil, possui distribuição geográfica nos estados do Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima), Nordeste (Maranhão) e Centro-Oeste (Mato Grosso).
Pode atingir altura entre 20 a 30 metros, com diâmetro entre 50 a 70 cm. É uma madeira extremamente pesada (densidade de 1,09 g/ 3), sendo dessa forma, extremamente dura ao
corte, com textura fina a média.
Possui vida útil em ensaios de campo de 27 anos no bioma do Cerrado, sendo considerada altamente resistente. Em ensaios de laboratório também é considerada altamente resistente aos fungos apodrecedores Trametes versicolor e Gloeophyllum trabeum
CASCA PRECIOSA
Nome científico : Aniba canelilla (Kunth) Mez
Espécie nativa e endêmica do Brasil. Possui domínio fitogeográfico nos biomas Amazônia (Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima), Cerrado (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso) e Mata Atlântica (Espírito Santo, Minas Gerais).
É uma espécie com reconhecidas propriedades anti-inflamatórias e antifúngicas. Em ensaios de campo a espécie apresentou ser altamente resistente, com durabilidade natural de 27 anos
MAÇARANDUBA
Nome científico: Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach.
É uma espécie nativa e endêmica do Brasil, podendo ser encontrada nas regiões Norte (Amazonas, Pará, Rondônia), Nordeste (Bahia), Centro-Oeste (Mato Grosso) e Sudeste (Espírito Santo).
A Maçaranduba pode chegar entre 30 a 50 metros de altura, com tronco entre 1 a 3 metros de diâmetro. Possui uma madeira muito pesada e dura (densidade de 1,04 g/cm3), racha com facilidade e possui textura média, sendo indicada para construções externas, dormentes, postes, estacas, mourões, cruzetas e pontes. Na construção civil é utilizada em caibros, vigas, tábuas, assoalhos e tacos.
Possui durabilidade natural em ensaios de campo no bioma Cerrado com vida útil de 27 anos, sendo considerada altamente resistente