ESPÉCIES ARBÓREAS PRODUTORAS DE MADEIRA (IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA DE MADEIRAS COMERCIAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO (2020))
Hoje vamos falar de anatomia da madeira, esse tópico será dividido em duas partes.
O conhecimento que estamos adquirindo através da leitura desse livro nos ajuda a entender melhor o comportamento do nosso produto.
Boa leitura!!!
A Papiro Madeiras apoia o Manejo Florestal!
ANATOMIA DA MADEIRA – PARTE I
A anatomia da madeira (anatomia é proveniente do grego anatomé, que significa incisão, dissecação) é um segmento da botânica que estuda os diversos tipos de célula, que constituem o lenho (madeira ou xilema secundário – xilema é um termo derivado do grego xylon, que significa madeira), suas funções, sua organização, suas peculiaridades estruturais e suas relações com a atividade biológica do vegetal.
A identificação de a árvore (classificação taxonômica) é realizada considerando suas características morfológicas, como folhas e casca, e, principalmente, seus órgãos reprodutores, como flores e frutos. A presença dos órgãos reprodutivos em uma árvore é sazonal e depende da fenologia de cada espécie, o que, muitas vezes, dificulta a identificação em levantamentos florísticos. Entretanto, quando a árvore cortada e, posteriormente, sua madeira é desdobrada e essas características morfológicas são eliminadas, impossibilitando sua identificação por meio de caracteres morfológicos.
É nesse momento que se nota a importância do conhecimento das características anatômicas, para que se possa realizar a identificação da madeira de forma correta e confiável. Assim, duas abordagens são utilizadas na identificação: a macroscópica, que é subdividida em sensoriais, que são utilizadas pelos conhecedores práticos de madeira, principalmente marceneiros, moveleiros, carpinteiros, escultores, entalhadores etc., e anatômicas, em que a observação das características da madeira é realizada a olho nu ou usando lupa com até 10 vezes de aumento; e a microscópica, em que cortes histológicos da madeira são analisados com um microscópio óptico.
As características sensoriais ou organolépticas incluem cor, odor, gosto, brilho, desenho, textura, grã, peso e dureza, e são de grande importância, mas, ficam em segundo lugar, porque, apesar de serem observadas primeiramente, não definem gêneros e espécies, uma vez que a maioria dos gêneros tem características semelhantes.
A maior parte das madeiras apresentam uma variação de cor entre o cerne (células fisiologicamente inativas e mais próximas ao centro) e o alburno (células fisiologicamente ativas e mais próximas à casca).
Há uma grande variação nas cores do cerne das madeiras brasileiras, desde o esbranquiçado (pau-marfim, Balfourodendron riedelianum) ao enegrecido (pau-santo, Zollernia sp.), passando pelo amarelado (pau-amarelo, Euxylophora paraensis), marrom acastanhado (mogno, Swietenia macrophylla), bege-rosado (peroba-rosa, Aspidosperma polyneuron) e avermelhado (conduru, falso-pau-brasil, Brosimum rubescens). Ocorrem ainda algumas madeiras cujo cerne apresenta colorações intrínsecas, como arroxeado (pau-roxo, Peltogyne sp.), rajado (angelim- rajado, Zygia racemosa, sin.: Marmaroxylon racemosum) e com aspecto fibroso (realce entre as fibras escuras e as células de parênquima axial, que são claras), como nas madeiras de sucupira (Bowdichia sp., Sweetia sp., Diplotropis sp.), angelim (Hymenolobium sp.), cumaru (Dipteryx sp.), entre outras.
Em algumas madeiras, o alburno escurece quando entra em contato com o ar (oxidação) ou com metais. Por exemplo: tatajuba (Bagassa guianensis), cupiúba (Goupia glabra) e oiticica (Clarisia racemosa). Esse fenômeno pode ocorrer também no cerne de algumas madeiras.
As madeiras de cerne escuro são em geral mais duráveis, pois comumente possuem depósitos (taninos e resinas), o que faz com que sejam mais resistentes ao ataque de agentes xilófagos, do que as de cerne claro (consideradas madeiras brancas), que, muitas vezes, são madeiras moles, leves e macias.
Algumas espécies apresentam odor e gosto característicos por causa da presença de substâncias voláteis que se concentram no cerne, o que pode facilitar sua identificação. O odor pode ser: agradável, por exemplo, cerejeira (Amburana cearensis), imbuia (Ocotea porosa), bálsamo/cabriúva (Myroxylum sp.) e canela-sassafrás (Ocotea odorifera); ou desagradável, como cupiúba (Goupia glabra), angelim-vermelho (Dinizia excelsa), canela-fedida (Ocotea sp.) e tauari-fedido (Couratari sp.). Essas madeiras não são indicadas para partes internas ou aparentes de estruturas de cobertura. Já o gosto pode ser amargo (angelim-amargoso, Vatairea guianensis), adocicado (cerejeira, Amburana cearensis), adstringente (aroeira, Myracrodruon urundeuva) e ácido (pequi- vinagreiro, Caryocar edule).
continua…