ESPÉCIES ARBÓREAS PRODUTORAS DE MADEIRA (IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA DE MADEIRAS COMERCIAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO (2020))
Dando continuidade ao tópico anatomia da madeira, iremos falar das camadas de crescimento, raios, fibras, canais secretores, etc.
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ANATOMIA DA MADEIRA – PARTE II
A orientação das estruturas do lenho (principalmente as fibras) em relação ao eixo vertical (tronco principal), em decorrência do crescimento, é chamada de grã. Essa orientação parece ser genética, mas pode variar por influências ambientais, de tratamentos químicos ou por causa da inclinação do terreno, o que pode ocasionar a diminuição da resistência mecânica, deformações de secagem e dificuldade na trabalhabilidade da madeira.
As grãs são: direitas, quando as células do lenho são orientadas paralelamente ao eixo vertical; ou irregulares, quando o alinhamento das células não coincide com a orientação do eixo longitudinal de uma peça de madeira. Entre as irregulares, a grã helicoidal (orientada de forma helicoidal
– em forma de hélice – ao eixo vertical), que pode ser observada pela aparência retorcida da madeira depois de a casca ter sido removida; a grã revessa (orientada em diversas direções em relação ao eixo vertical, e as inclinações sofrem alterações periódicas); a ondulada (orientada de forma sinuosa regular em relação ao eixo vertical); e a inclinada (orientada de forma diagonal em relação ao eixo vertical), observada, principalmente, em troncos de formato cônico.
O brilho e o desenho são de grande importância estética, (cedroarana, Cedrelinga cateniformis). Em Gimnospermas, a textura está relacionada à espessura (nitidez e contraste) e à regularidade dos anéis de crescimento, sendo considerado como textura grossa o Pinus elliottii (pinho) e como textura fina o Podocarpus lambertii (pinheiro-bravo).
O peso e a dureza são propriedades físicas/mecânicas que estão diretamente relacionadas à quantidade de elementos celulares, à sua espessura e ao seu diâmetro. Por exemplo, madeiras com fibras muito espessas e vasos de diâmetro pequeno são mais densas (mais pesadas); já madeiras de vasos de diâmetro muito grande e com fibras de paredes finas são, consequentemente, menos densas (mais leves). No entanto, é interessante observar a presença de conteúdos (gomas, resinas, cristais, óleos etc.) que podem aumentar o peso da madeira.
Isoladamente, as características sensoriais não são suficientes para uma identificação precisa da madeira; porém, as características anatômicas macroscópicas facilitam a separação de família, gênero e, algumas vezes, espécies.
As características anatômicas macroscópicas, como os parênquimas axial e radial (raios), os vasos e as camadas de crescimento, são vistas no topo (transversal) e no corpo (longitudinal) da madeira. Essas características podem ser observadas a olho nu ou com o auxílio de uma lupa de 10 vezes de aumento.
O parênquima axial é definido como um tecido constituído de células de paredes finas, de cor mais clara que a parte fibrosa do lenho, quando visto sob a lente no plano transversal. Possui a função de acumular reservas nutritivas para o vegetale para o tecido de preenchimento. É uma das características essenciais para a identificação de famílias, gêneros e/ou espécies por causa de seus diferentes tipos. pois destacam a superfície da madeira, dando uma aparência decorativa e distinta, e podem ser trabalhados com o polimento. O brilho ocorre em muitas madeiras, como as espécies da família Lauraceae (canelas). A característica de desenho refere-se às figuras observadas nos planos longitudinais, em que são observados os contrastes de coloração entre as fibras e o parênquima axial, sendo que os desenhos mais atraentes são causados, principalmente, pela formação de nós (Araucaria angustifolia e Pinus sp.), pelo crescimento excêntrico, pela presença de diferentes tipos de grã e pelos depósitos com colorações características no cerne (ipê, Handroanthus sp.; sin.: Tabebuia sp.).
As madeiras apresentam diferentes quantidades e proporções das estruturas anatômicas, o que reflete na textura da madeira. Nas Angiospermas, a textura está relacionada, sobretudo, ao diâmetro dos vasos e à largura dos raios. São classificadas como: fina (peroba- rosa, Aspidosperma polyneuron), média (cedrinho, Erisma uncinatum) e grossa Os vasos são constituídos de células (elementos de vaso), ligadas umas às outras (em séries axiais coalescentes), formando uma série contínua (tubos) que conduz no alburno, água e minerais, desde as raízes até as folhas da copa da árvore. No plano transversal, os vasos possuem uma forma circular ou ovalada. Os elementos de vaso ainda possuem as extremidades perfuradas, denominadas placas de perfuração, que podem ser simples, quando possuem uma só abertura, ou múltiplas, quando apresentam diferentes tipos de abertura, que permitem a circulação da seiva. Depois do parênquima axial, os vasos são considerados de grande importância na identificação anatômica macroscópica por causa, principalmente, de sua porosidade, sua disposição (agrupamento), seu arranjo, seu diâmetro, sua frequência e seu conteúdo.
A obstrução dos vasos, uma característica de algumas famílias, também é de grande importância para a identificação. Os vasos podem ser total ou parcialmente obstruídos por tilos, que têm um aspecto brilhante quando observados a olho nu, ou, ainda, por substâncias, depósitos/ conteúdos de colorações variadas.
As camadas de crescimento são observadas no topo (plano transversal) e podem ser formadas pelas condições ambientais. Os estudos dendrocronológicos (relativos às camadas de crescimento) são verdadeiros registros climáticos e servem para determinar a idade de uma árvore pelo número de anéis de crescimento (principalmente em zonas temperadas), para estimar as taxas de crescimento de uma espécie e, com isso, determinar os ciclos de corte, o regime de desbastes e a estimativa do volume a ser explorado. Por essa razão, seu estudo é cada vez mais usado em práticas de manejo florestal.
Os raios (ou parênquima radial) desempenham a função de armazenamento e translocação radial de substâncias nutritivas para as células vivas da árvore (alburno). Eles “radiam” do câmbio (da parte de fora) em direção à medula (centro). São compostos de células alongadas e dispostas horizontalmente (perpendicular ao caule), como fitas achatadas, que formam uma trama para segurar as células. Em geral, consistem em menos de 10% da madeira, podendo ser observados sem lente de aumento. Servem para a separação de famílias e, muitas vezes, de gêneros, por exemplo: os raios altos e largos nas espécies da família Proteaceae.
Alguns gêneros das famílias Fabaceae, Lauraceae, Lecythidaceae e Meliaceae podem apresentar conteúdo escuro nos raios, vistos na macroscopia como pontos enegrecidos no plano tangencial e confundidos com os canais radiais.
As fibras são células de extremidades afiladas e de paredes mais espessas que as células parenquimáticas. Constituem, geralmente, 80% da madeira e funcionam como suporte estrutural, entretanto não são importantes na identificação.
Em alguns casos, podem ocorrer variações nas estruturas da madeira, como os canais secretores, o floema incluso e as máculas.
Os canais secretores possuem estrutura tubular e com comprimento indeterminado, sem paredes próprias e revestidos de células parenquimáticas (células epiteliais). Podem conter substâncias, como óleo-resina, gomas, bálsamos, taninos, látex etc. Os canais radiais são observados dentro do raio, no plano tangencial, e são peculiares a determinadas famílias, como Anacardiaceae, Araliaceae e Burseraceae. Os canais traumáticos apresentam formas irregulares, as quais, quando observadas na macroscopia, assemelham-se a um “carvão”, por exemplo, Bertholletia excelsa (castanheira). Já os canais axiais possuem formas regulares e de tamanhos menores, chegando a se assemelhar aos vasos, e podem ocorrer de forma difusa (Connarus sp., araruta) ou em linhas tangenciais (Copaifera sp., óleo-de-copaíba). Os tubos são uma série de células de tamanho indeterminado, que se estendem radial ou verticalmente (entre as fibras). São visíveis, sobretudo, sob lente como pontos enegrecidos em alguns raios e, às vezes, entre as fibras. Entretanto, são difíceis de ser observados na macroscopia, por isso não são diferenciados. Podem ser laticíferos (família Apocynaceae, Malvaceae, Moraceae, entre outras) ou taniníferos (Myristicaceae), ou seja, que contêm látex ou tanino, respectivamente.
O floema incluso ocorre quando o câmbio forma esporadicamente floema para dentro do xilema secundário (madeira), característicode poucas famílias, por exemplo, Strychnos sp. (Loganiaceae) e Gallesia integrifolia (Phytolaccaceae).
As máculas são estrutura de aspecto semelhante ao parênquima axial, que podem ser formadas em resultados de injúrias na região cambial, como Gochnatia sp. (Asteraceae).
Em conjunto, as observações dessas características macroscópicas e sensoriais permitem: distinguir madeiras aparentemente idênticas, evitando trocas e dando maior confiabilidade aos exportadores, importadores e consumidores; proporcionar subsídios aos órgãos de fiscalização e certificação (madeiras comercializadas e/ou ameaçadas de extinção), ou em processos jurídicos, nos quais seja necessário comprovar a espécie da madeira; separar de gêneros, mesmo sendo de pedaços de carvão.